Perdi o gosto bom das coisas, ela disse no começo da manhã. Fiquei pouco atônita, pouco pensativa, como assim? Perdi, ela disse. No final do dia, depois de horas de
trabalho, alguma desilusão, dor nas
costas por passar mais de oito
horas sentada, o corpo doido por
uma água morna, os pés
implorando uma pantufa cheia de
aconchego, a barriga pedindo por
favor uma comida boa e honesta, o
coração pulando em busca de um
porto, eu entendo. Entendo o gosto
dilacerado ou perdido ao longo do
dia. Mas uma manhã como essa,
pura e nova e fresca e tão azul, de
um azul bonito e quente, um azul
vivo e limpo, não sei.
Clarissa Corrêa
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